Dungeon Meshi e o Ciclo da Vida: Reflexões sobre a
brutalidade no comer
Resumo: Comer é um privilégio dos vivos – este é o lema do mangá Dungeon Meshi, de Ryoko Kui,
cuja temática relaciona a atividade culinária a uma compreensão do que signifi ca ser humano. A obra
faz isso ao colocar seus protagonistas, um grupo de heróis típico da fantasia medieval (cavaleiro, elfo,
anão, mago), numa situação extrema: para sobreviverem, precisarão se alimentar de monstros, algo
que nunca haviam feito e que constitui verdadeiro tabu para a sua cultura. No entanto, a categoria
“monstro” se revela um tanto elástica, variando desde criaturas animalescas e selvagens até seres
incomodamente semelhantes aos humanos. A partir daí, uma série de questionamentos emerge: o que
signifi ca comer? O que faz algo ser considerado alimento? Dessa maneira, o presente trabalho tem
por objetivo investigar como a obra entende a vida como um ciclo, tendo princípio e fi m na morte,
sendo o ato de comer, nesse processo, primordial à sobrevivência. A pesquisa se dá em três etapas: o
alimento, o ato de comer e aqueles que comem. Para tal, se faz necessário uma revisão bibliográfi ca
sobre o conceito de monstro e o ato culinário, com objetivo de analisar o fenômeno do tabu em comer
monstros, já que as resoluções para os dois desafi os fi nais passam pelo ato de comer, cada um com
um viés: o de sobrevivência e o de amor. Também se faz necessária a análise do protagonista, Laios,
que entende tudo sobre monstros e é aquele que propõe ao seu grupo de aventureiros, contrariando
as normas sociais comuns, comer monstros para sanar seu défi cit de recursos, além de ser aquele
que enfrenta o grande antagonista. É notável que a autora Ryoko Kui desenvolve vários estereótipos
do gênero da fantasia medieval sob uma outra perspectiva, trabalhando a temática do ciclo da vida
através da culinária e da sobrevivência.